segunda-feira, 15 de outubro de 2007




Visitei e gostei!

1.O site www.cnotinfor.pt/inclusiva tem levantamento e análise de dados na área de Educação Inclusiva, informações sobre políticas públicas, material pedagógico, acessiblidade e outros temas disponíveis na língua portuguesa, inglesa e espanhola.

2.Já o site http://www.surdosol.com.br/ foi criado para atender a comunidade surda. Tem informações sobre eventos, associações, lei de libras e outros temas. Qualquer um pode visitar e aprender um pouco mais !

3.No http://www.lerparaver.com/ os conteúdos são direcionados para pessoas cegas,baixa visão ou com algum problemas visuais. Segundo seus criadores o objetivo é a infoinclusão. Dá um suporte também para família com consultas jurídicas e oftalmológicas,tem orientações para novos deficientes visuais e questões sobre mobilidade.

Neste site vi um link que dá acesso ao site http://www.bengalalegal.com/ e assisti ao vídeo Acessibilidade custo ou benefício? Feito pelo grupo acesso digital, veja e faça seu comentário! Ajuda na construção de um blog acessível! http://videolog.uol.com.br/video.php?id=230205

sábado, 13 de outubro de 2007

Alteridade

ALTERIDADE - POR FREI BETTO

O que é alteridade? É ser capaz de apreender o outro na plenitude da sua dignidade, dos seus direitos e, sobretudo, da sua diferença. Quanto menos alteridade existe nas relações pessoais e sociais, mais conflitos ocorrem. A nossa tendência é colonizar o outro, ou partir do princípio de que eu sei e ensino para ele. Ele não sabe. Eu sei melhor e sei mais do que ele. Toda a estrutura do ensino no Brasil, criticada pelo professor Paulo Freire, é fundada nessa concepção. O professor ensina e o aluno aprende. É evidente que nós sabemos algumas coisas e, aqueles que não foram à escola, sabem outras tantas, e graças a essa complementação vivemos em sociedade. Como disse um operário num curso de educação popular: "Sei que, como todo mundo, não sei muitas coisas". Numa sociedade como a brasileira em que o apartheid é tão arraigado, predomina a concepção de que aqueles que fazem serviço braçal não sabem. No entanto, nós que fomos formados como anjos barrocos da Bahia e de Minas, que só têm cabeça e não têm corpo, não sabemos o que fazer das mãos. Passamos anos na escola, saímos com Ph.D., porém não sabemos cozinhar, costurar, trocar uma tomada ou um interruptor, identificar o defeito do automóvel... e nos consideramos eruditos. E o que é pior, não temos equilíbrio emocional para lidar com as relações de alteridade. Daí por que, agora, substituíram o Q.I. para o Q.E., o Quociente Intelectual para o Quociente Emocional. Por quê? Porque as empresas estão constatando que há, entre seus altos funcionários, uns meninões infantilizados, que não conseguem lidar com o conflito, discutir com o colega de trabalho, receber uma advertência do chefe e, muito menos, fazer uma crítica ao chefe. Bem, nem precisamos falar de empresa. Basta conferir na relação entre casais. Haja reações infantis... Quem dera fosse levada à prática a idéia de, pelo menos a cada três meses, um setor da empresa fazer uma avaliação, dentro da metodologia de crítica e autocrítica. E que ninguém ficasse isento dessa avaliação. Como Jesus um dia fez, ao reunir um grupo dos doze e perguntou: "O que o povo pensa de mim?" E depois acrescentou: "E o que vocês pensam de mim?" Quem, na cultura ocidental, melhor enfatizou a radical dignidade de cada ser humano, inclusive a sacralidade, foi Jesus. O sujeito pode ser paralítico, cego, imbecil, inútil, pecador, mas ele é templo vivo de Deus, é imagem e semelhança de Deus. Isso é uma herança da tradição hebraica. Todo ser humano, dentro da perspectiva judaica ou cristã, é dotado de dignidade pelo simples fato de ser vivo. Não só o ser humano, todo o Universo. Paulo, na Epístola aos Romanos, assinala: "Toda a Criação geme em dores de parto por sua redenção". Dentro desse quadro, o desafio que se coloca para nós é como transformar essas cinco instituições pilares da sociedade em que vivemos: família, escola, Estado (o espaço do poder público, da administração pública), Igreja (os espaços religiosos) e trabalho. Como torná-los comunidades de resgate da cidadania e de exercício da alteridade democrática? O desafio é transformar essas instituições naquilo que elas deveriam ser sempre: comunidades. E comunidades de alteridade. Aqui entra a perspectiva da generosidade. Só existe generosidade na medida em que percebo o outro como outro e a diferença do outro em relação a mim. Então sou capaz de entrar em relação com ele pela única via possível porque, se tirar essa via, caio no colonialismo, vou querer ser como ele ou que ele seja como sou -a via do amor, se quisermos usar uma expressão evangélica; a via do respeito, se quisermos usar uma expressão ética; a via do reconhecimento dos seus direitos, se quisermos usar uma expressão jurídica; a via do resgate do realce da sua dignidade como ser humano, se quisermos usar uma expressão moral. Ou seja, isso supõe a via mais curta da comunicação humana, que é o diálogo e a capacidade de entender o outro a partir da sua experiência de vida e da sua interioridade. * Frei Betto é escritor, autor de "Alfabetto - autobiografia escolar" (Ática), entre outros livros. Fonte Adital

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Um pouco mais de Frei Betto

Sou eu o deficiente?
Frei Betto
Porque sou tetraplégico, preso a uma cadeira de rodas, chamavam-me de "aleijado". Por sofrer de cegueira, fui considerado "deficiente físico". Psicótico, trataram-me como um bicho de sete cabeças. Agora, por ter perdido um braço num acidente, cuja pancada deixou-me leso, sou qualificado de "portador de deficiências física e mental".Mudam os termos, mas não a cultura que ponha fim aos preconceitos que me cercam. Antes, diziam que sou mongolóide; agora sofro de síndrome de Down. Era leproso; agora tenho hanseníase.Nesta sociedade contaminada pela síndrome de Damme, e que cultua a idolatria dos corpos - ainda que a cabeça se assemelhe à do camarão - sou confinado, léxica e socialmente, às limitações que carrego.Se saio à rua, pouco encontro rampas, em calçadas e prédios, para passar com a minha cadeira de rodas. Com freqüência, há um carro estacionado na vaga a mim reservada. Temo um novo atropelamento ao cruzar a rua, pois o tempo do semáforo e a fúria dos motoristas não respeitam a lentidão deste corpo que se apóia na bengala. Muitas vezes, na rua, dependo da solidariedade anônima para subir para o ônibus ou poder sentar no metrô. À noite, sonho com fantasmas gritando em meus ouvidos:Fique em casa! Sua debilidade é o seu cárcere! Não se atreva a imiscuir-se neste mundo de corpos esbeltos e saudáveis, sarados e curados, lindos e louros. Não se manca que esta nação cultua heróis que ousaram desafiar os limites do corpo? O Brasil não tem nenhum santo canonizado, embora o Peru tenha um casal, Rosa de Lima e Martinho de Porres. Nunca o prêmio Nobel chegou a estas terras. Só em poesia, o Chile ostenta dois, Gabriela Mistral e Pablo Neruda. Em compensação, chutamos a bola como ninguém (embora não estejamos em nossos melhores dias), corremos na Fórmula 1 numa velocidade que nenhum outro mamífero alcança; erguemos os braços vitoriosos em quadras de tênis e vôlei. Você, nem herói nacional pode ser! Se ao menos pudesse requebrar sobre o gargalo de uma garrafa, haveria de merecer o seu minuto de fama. Fique em casa!Não fico. Nem aceito que minhas limitações permaneçam estigmatizadas por expressões equívocas. Não sou um portador de deficiência. Sou um portador de inteligência, aptidões e talentos. De dignidade e cidadania. Por quê não qualificam de deficientes visuais aqueles que usam óculos? Sou um PODE portador de direitos especiais. Todos temos direitos universais. Tenho direito também aos especiais: equipamentos sociais, prioridade no atendimento público, estacionar em local proibido etc. Quero ser definido, não pela carência que atinge a minha saúde, mas pelo direito que a sociedade está obrigada a me assegurar. Neste mês de agosto, é a mim que o Ano Internacional do Voluntariado dedica sua atenção. O Comitê Brasileiro de Voluntariado e o Centro de Voluntariado de São Paulo esperam que a campanha deste mês sirva para mobilizar todos aqueles que podem ajudar-me a ser reconhecido como cidadão. Como qualquer pessoa, preciso trabalhar. Sei que não tenho aptidão para certas tarefas, devido ao meu descontrole motor. Mas de quantas coisas sou capaz, graças à minha inteligência e cultura, habilidade e talento! Sei pintar com a boca ou com os dedos dos pés; posso ensinar idiomas ou computação sem me erguer da cadeira; sou bom no controle de qualidade dos produtos.O que seria de nós se Beethoven fosse discriminado como surdo e Stephen Hawking como aleijado? E se Van Gogh permanecesse internado após cortar a própria orelha? E se Lars Grael ficasse em casa lamentando a perda de uma perna? Deficiente é quem traz, na vida, um déficit com quem depende de solidariedade: o pai que ignora o filho doente; a mãe que se envergonha da filha excepcional; o empresário que exige "boa aparência" de seus funcionários; o poder público que não constrói equipamentos, nem põe na cadeia quem discrimina um portador de direitos especiais. Vontade de fazer as coisas eu tenho. Capacidade também. Sei que posso, sou um PODE. Só faltam oportunidades e quem reconheça que, aquém dos direitos especiais, tenho também direitos universais.
(Fonte: Adital)